terça-feira, março 21, 2006

Camões na Banda Desenhada (I) - Os Lusíadas e o Canto IX


Prancha do Canto IX de "Os Lusíadas", na interpretação banda-desenhística de José Ruy

Confesso, pronto, confesso. Estou a iniciar esta rubrica porque hoje é o Dia Mundial da Poesia.

Eu sei, poesia lê-se quando se quer.

Mas um dia dedicado seja ao que for, não faz mal nenhum, desperta, pode despertar, insuspeitados, adormecidos, nunca antes pressentidos fluxos de interesse. Eu acho.

Um exemplo: Rui Faustino, pessoa que eu ainda ontem não sabia quem fosse, resolveu fazer, junto à estátua de Camões, uma instalação poética, composta por quatro poemas dele próprio em telas gigantes.

Isto como "protesto poético" pelo facto de, como ele disse, "Portugal não lê os poetas que tem, e as editoras publicam pouca poesia".

Bem, neste caso, eu acrescento que sempre considerei os poetas grandes fazedores de fanzines, na área dos "poezines", ou seja, são frequentemente editautores de pequenos fascículos com a sua própria poesia, a que chamam "edição de autor" (e os fanzines são issomesmo, em muitos casos).

Agora falando de Camões, Luís Vaz de Camões, ou melhor, de Os Lusíadas, ou mais propriamente, do Canto IX.

Este Canto, o nono, no tempo da "Outra Senhora", estava no Index das autoridades responsáveis pela educação dos jovens. Por esse motivo, o estudo desta obra maior da Literatura Portuguesa era truncada, poupando à imaginação da juventude da época descrições classificadas como obscenas e frases consideradas licenciosas, que poderiam perverter-lhe a moral, tipo "Oh que famintos beijos" (...) "Que Vénus com prazeres inflamava", e outras do género, como se pode ver ao ampliar-se a imagem da prancha extraída do 3º volume, e último, da edição de 1984 (ainda da Editorial Notícias), que engloba os Cantos VIII, IX e X de Os Lusíadas, na adaptação em banda desenhada, por José Ruy, que respeitou na íntegra o texto original. 


Capa do 3º álbum da obra Os Lusíadas - Adaptação em banda desenhada, por José Ruy

Voltando ao motivo que me induziu a iniciar esta nova rubrica Camões na Banda Desenhada. Criei-a, porque é um tema que "dá pano para mangas" na BD. Aliás, nesta entrada de hoje, não vou mostrar a figura de Camões como personagem de Banda Desenhada. Mas, claro, aproveito uma capa desenhada por José Ruy para Os Lusíadas, a fim de ilustrar o "post".

E agora vou largar o meu querido blogue, vou dar por findo este "post" dedicado a Camões, aos Lusíadas, e implicitamente, à Poesia neste caso na Banda Desenhada, e vou a correr até ao bar do Teatro A Barraca, porque hoje é terça-feira, dia (sempre às terças-feiras) em que Changuito diz (muito bem) poesia. E atenção: isso de às terças-feiras haver quem diga poesia - já aconteceu ser a Maria do Céu Guerra - e eu ir lá ouvir, acontece muitas vezes, não tem nada a ver com comemorações de quaisquer dias de poesia.

(Mas acabo como comecei: não faz mal a ninguém que haja esse dia).