sexta-feira, maio 02, 2014

Política e BD (VI)







Numa indispensável triagem ao amontoado de jornais que tenho coleccionado, ao longo de dezenas de anos, por terem bandas desenhadas ou simplesmente artigos sobre BD, encontrei um exemplar de O Repórter (nº10 - Março 97) mensário destinado à juventude editado pela Câmara Municipal de Loures.

É o único exemplar que possuo, terá chegado às minhas mãos por mero acaso - sou de Lisboa, e não frequento Loures. Claro que, quando o encontrei, tive a noção de o ter guardado por causa da bd de duas pranchas, impressas a cores, apresentada pelo título de "Última Página".

Contactei um dos seus autores, Diniz Conefrey, que fez os desenhos (não conheço o argumentista, Ricardo Machaqueiro), e fiquei a saber que "Última Página" era o título da rubrica, resultante do facto de, habitualmente, a bd ser reproduzida na última página do jornal, e devido a isso ter apenas uma prancha.

Essa bd - afinal sem título - que se volta a publicar, desta vez no espaço virtual de um blogue, é protagonizada por um jornalista do jornal regional (talvez fictício) Ecos do Trancão. No decurso do seu trabalho, ele entrevista um antigo membro do MUD Juvenil, que recorda os tempos da sua actividade política em Sacavém, tradicional baluarte anti-fascista, na sua opinião. Nessa conversa com o jornalista toma-se conhecimento com várias peripécias de carácter político, caso das greves de 8 e 9 de Maio de 1944, do acompanhamento do funeral do escritor e militante comunista Soeiro Pereira Gomes, de que as autoridades haviam feito o possível para ocultar a hora, ou da pintura, com nitrato de prata, no Arco do Alviela, da frase "Abaixo o Campo de Concentração do Tarrafal", na véspera da passagem da Volta a Portugal em ciclismo por Santarém.

Trata-se de uma peça de figuração narrativa onde se prova, mais uma vez - contrariando preconceitos erróneos e simplistas - que a BD, além de aventuras de super-heróis e de patos e ratos antropomórficos, também abarca temas de carácter social e político.

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DINIZ CONEFREY

Síntese biográfica

Carlos Diniz Guedes Pacheco Conefrey, 10 de Junho de 1965, Lisboa.

Possui o Curso de Desenho da Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa.

Tem colaboração em BD nos álbuns "Noites de Vidro" - aavv -, edição da Câmara Municipal de Lisboa (1991), "Vida de Preto" - aavv -, edição do Movimento Anti-Racismo, Lisboa (1995), Síndrome de Babel - aavv -, edição da Câmara Municipal da Amadora para o Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (1996), "Arquipélagos" - adaptação à BD de obra poética de Herberto Helder, Editora Íman, Lisboa (2001), "O Livro dos Dias: Cochquixtia", Edições Devir, Lisboa (2003), "Os Labirintos da Água" - adaptação de três textos  de Herberto Helder, edição de Quarto de Jade (2013).

De referir o facto de "O Livro dos Dias: Cochquixtia" ter sido produzido com o apoio  de uma Bolsa de Criação Literária do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas. 

Diniz Conefrey colaborou na revista Lx Comics (nº2 - Outono 1990) com a banda desenhada e fotografada de seis pranchas, "Avé-Marias - Lisboa a Medley of Colours and Noises", e também nos nºs 3 e 4 - Inverno e Verão de 1991, respectivamente, com episódios intitulados "Histórias de Família". 

Tem feito bandas desenhadas para vários jornais, designadamente "Notas de Um Bibliotecário Sobre a Leitura" (1990), "Saldos", sob argumento de João Barreiros (1991) e "Miragens" (1992), para o semanário Expresso; para o semanário Blitz criou "O Pacífico Bar" (1991), "Ruivo no Desemprego" (1991), "Ruivo - Rendez-Vous" (1992); em colaboração com o jornalista Ricardo Machaqueiro que lhe escrevia os argumentos de carácter político, desenhou alguns episódios de prancha única, por vezes de duas pranchas, para o mensário regional Repórter, editado pela C.M. de Loures em 1997.

Teve a sua fase de faneditor, ao editar os fanzines Ktulu, Aquatarkus e Gasp, nos quais também participou como autor, e colaborou em zines de outros faneditores, nomeadamente nos intitulados Hamburguer, Dossier Top Secret, Eros, Shock, Banda, BD & Roll e Azul BD Três.

Orientou o Curso de Banda Desenhada no Ateliê de Técnicas Narrativas da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, em 1995 e 1998. Colaborou na Ilustração Portuguesa, edição da Bedeteca de Lisboa, de 1998 a 2000 e 2002, e também na revista Biblioteca, nºs 3 e 4, Lisboa, 1999.

Em publicações estrangeiras colaborou no colectivo L'Encre du Polvo, aavv, Ed. Pélure Amère, França, 1994.

Participou na obra "Lissabon, Lisboa, Lisbonne, Lisbon", editada em Portugal mas em língua francesa.

Teve obra de BD sua incluída na exposição colectiva "Perdidos no Oceano", realizada em França pelo Festival International de Bande Dessinée de Angoulême, em 1998.
Colaborou com as revistas mexicanas Textofilia (nº14 - 2007) e Letra en Ruta (nº3 - 2008), publicando bandas desenhadas.

Foi galardoado com o troféu "Zé Pacóvio e Grilinho", atribuído pelo Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, na categoria de Melhor Desenho de Álbum Nacional/2002, prémio recusado pelo autor.  

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